Marcelo Lima – O Estado de S.Paulo
No fim dos anos 90, o historiador
inglês Ted Polhemus, no livro Streetstyle: from sidewalk to catwalk (Moda de
rua: da calçada para a passarela), cunhou a expressão “supermercado de estilos”
para caracterizar o que ele dizia ver circulando nas ruas das grandes
metrópoles contemporâneas. Uma enorme miscelânea fashion e existencial, na qual
todo o passado da moda podia ser acessado (e, ironicamente, adquirido como latas
de sopas) ao sabor do desejo – e das fantasias – de cada um. Para o mundo da
moda, parecia ter sido decretado o fim da ditadura dos estilos.
Passada pouco mais de uma década,
eis que a Casa Cor, maior mostra de arquitetura de interiores do País, se
propõe a discutir o papel da moda, do estilo e da tecnologia, tendo como pano
de fundo a criação dos espaços residenciais contemporâneos. E, como que por
confirmar a teoria proposta por Polhemus, acaba por produzir aquela que é,
provavelmente, a mais eclética seleção já apresentada pelo evento.
Goste-se ou não do resultado,
fato é que existe de tudo um pouco nos cerca de 70 ambientes em exposição no Jockey
Club paulistano a partir de terça-feira (29/5). Incluindo homenagens pessoais
na forma de ambientes, um espaço exclusivo assinado pelo designer alemão Ingo
Maurer, a exposição conceitual Casa Talento Fashion, além da tradicional Casa
Hotel (a Casa Kids, que completava o trio de mostras, foi suprimida). Todos com
um único objetivo: demonstrar a atração fatal entre moda e design experimentada
nos dias de hoje.
“A moda está presente no dia a
dia dos profissionais que trabalham com interiores. Estampas, texturas e cores
saem das passarelas e acabam quase imediatamente influenciando a imaginação de
arquitetos e decoradores. Não poderíamos ficar alheios a essa realidade”,
declara o empresário Angelo Derenze, atual presidente da Casa Cor, para quem a
edição 2012 é reflexo de um momento de aceleradas transformações nos dois
setores.
“É importante notar que nos
últimos anos, nomes do mundo fashion têm lançado produtos e coleções para casa.
O momento é de reforçar os laços entre as duas áreas criativas”, afirma Derenze,
que destaca ainda a sensível veiculação da tecnologia com os dois ramos da
criação. E, consequentemente, com as inovações propostas pelos profissionais em
seus espaços, apesar de eles nem sempre serem perceptíveis para os visitantes
da mostra.
Como acontece, por exemplo, com a
automação residencial – um recurso presente em nove entre dez ambientes do
edifício principal e também de seus anexos. Entre eles, uma casa de campo
completa e diversas unidades residenciais autônomas, como lofts, estúdios e pequenos
apartamentos. Sem esquecer dos tradicionais living, dormitórios, adega,
biblioteca, cozinhas gourmet e salas de todos os tipos e tamanhos, além do já
quase clássico spa doméstico.
“Meus espaços foram feitos para
serem usados e não para mostrar para as visitas. Este projeto não foge à
regra”, afirma o arquiteto baiano David Bastos, autor do Concept Hall: um
grande spa construído a céu aberto em parceria com a fabricante de louças
sanitárias Deca, que surpreende por sua versatilidade e despojamento. Uma
atitude exercitada, felizmente, pela maioria dos profissionais iniciantes
presentes ao evento.
“A tecnologia esta aí para
viabilizar as soluções. Cabe a nós propormos as ideias”, declara a jovem
arquiteta Francisca Reis, que não viu maiores inconvenientes em integrar um
carro ao desenho de um apartamento concebido para um casal sofisticado que
gosta de arte. “Tudo é uma questão de projeto. A multiplicidade de recursos
torna possível hoje a convivência das mais diversas funções sob um mesmo teto”,
pontua ela.
“Diria que esta edição está muito
colorida, menos preocupada em obedecer a regras preestabelecidas”, afirma a
promotora Cristina Ferraz, organizadora veterana da Casa Cor, que vê com bons
olhos a diversidade reinante na mostra atual, onde, não raro, um mesmo ambiente
se propõe a transitar entre os mais diversos estilos. Com maior ou menor
propriedade, diga-se de passagem.
Segundo Cristina, raros são os
profissionais que insistiram por exemplo, na sobriedade desgastada da dupla
branco e bege. Ou que se deixaram levar pelo rigor espartano do branco e preto.
“Eles parecem usar cores e imagens como forma de reafirmar sua marca pessoal.
Como acontece na moda, nem sempre se acerta, claro. Mas o que vale é continuar
experimentando”, conclui.
A Casa Cor estará aberta até
22/7, das 12h às 21h30, de terça-feira a sábado, e das 12 às 20 horas, aos
domingos e feriados. O ingresso custa R$ 39 de terça a sexta-feira e R$ 45 aos
sábados, domingos e feriados. Mais informações: Casa Cor.
Fonte: Estadão